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UM PONTO SEM VOLTA

escrito por Marco Ornellas

O mundo está mudando, fisicamente. Isso não é uma novidade, afinal, ao longo de bilhões de anos, temperaturas subiram e desceram, continentes se separaram, o que era fundo do mar virou montanha e o que era deserto virou floresta. Mudanças assim aconteceram e continuarão a acontecer. O que é novidade, no entanto, é a rapidez com que isso está acontecendo nas últimas décadas e o fato de que essas mudanças são causadas por uma única espécie. Por força de suas escolhas, esta espécie está levando a Terra a uma configuração que já é nociva para ela própria, podendo levar até mesmo à sua extinção. Falar em extinção pode parecer apocalíptico, mas faz parte da história do planeta. Outras espécies já foram dominantes e foram extintas, em ciclos que vêm se repetindo desde que a vida surgiu por aqui. A humanidade, com todo seu conhecimento, inteligência e tecnologia, talvez seja a primeira espécie a estar habilitada a evitar sua extinção e prolongar seu reinado, mas o que temos visto é exatamente o contrário: ela vem usando todas as suas habilidades para criar mecanismos que podem abreviar sua existência. Ou ainda, deixá-la menos tolerável. A pergunta, até pouco tempo atrás, era “Que mundo você quer deixar para seus filhos?”. Hoje, a pergunta já é: “Que mundo você quer para você?”. As mudanças já estão na porta. Nessa semana, tivemos recordes de calor em várias cidades no Brasil. Em São Paulo, tivemos 37,1ºC, a segunda maior temperatura da história (a maior foi em 2014, 37,8ºC). Ela está 12,6ºC acima da média para o mês de setembro. O mar está avançando e vai avançar mais, com as geleiras se desmanchando ano a ano. Quando se fala em meio ambiente, a expressão “point of no return”, o ponto sem volta, tem aparecido sempre. Ele indica um momento que, se alcançado, não poderá ser revertido. Isso vale para a alta da temperatura ou para o desmatamento, com consequências terríveis, como a savanização das florestas ou a escassez de água. Se há muitas evidências do desastre, há também inúmeras iniciativas na tentativa de reverter essa marcha e escrever um novo futuro. Iniciativas que vão desde os grandes acordos climáticos assinados pela maioria dos países, até soluções de agricultura familiar, em propriedades minúsculas. Recentemente, tivemos ambientalistas e grandes produtores rurais, gente com posições opostas, se unindo para pedir ao governo mudanças na política ambiental. Esse foi um acontecimento inédito e só foi possível porque existe o entendimento de que é de interesse de todos a preservação dos vários biomas ameaçados. Muitas empresas também já entenderam que é preciso olhar para além das planilhas e mudar a forma de pensar, analisando o impacto de suas ações, local e globalmente. São muitas, muitas iniciativas e vale muito a pena conhecer, acompanhar algumas delas, pensar juntos nas soluções que estão sendo debatidas e se engajar em uma causa. Esse é um ponto sem volta – o da consciência de que é preciso agir agora. Quero destacar dois movimentos de alto impacto: Capitalismo Consciente, movimento que nasceu nos Estados Unidos, com o encontro de John Mackey e Raj Sisodia e no Brasil tem expoentes de peso, liderados por Dario Neto, Diretor Geral do Instituto Capitalismo Consciente Brasil e o das Empresas B, outro movimento nascido nos EUA e capitaneado por três empresários: Jay Coen Gilbert, Bart Houlahan e Andrew Kassoy, incomodados com o fato de que o valor de uma empresa para investidores, não levava em conta a consciência social e ambiental dos fundadores. A partir daí, passaram a se dedicar a criar uma forma de identificar companhias que tivessem um impacto positivo – reconhecer empresas pelo seu lucro e por cumprirem metas sociais, ambientais e de transparência. Assim nasceu o o B Lab com a missão de “construir um ecossistema favorável para fortalecer empresas que usam a força do mercado para solucionar problemas sociais e ambientais: as Empresas B.” Esses dois movimentos são uma efetiva evidência de que as empresas precisam de algo maior que o lucro e o resultado financeiro – propósito. O propósito de uma empresa deve ser muito mais do que simplesmente gerar lucros: é a causa pela qual a empresa existe. E para isso, é preciso que a empresa tenha valores, princípios e práticas que conectem todos os stakeholders e, também, ao seu propósito, pessoas e processos. É a criação de um ecossistema inteiro, “uma economia onde o sucesso seja medido pelo bem-estar das pessoas, das sociedades e da natureza, redefinindo o sentido de sucesso na economia.” Assim, é possível gerar resultados sustentáveis colocando o planeta, a humanidade no centro. Essa iniciativa e imperativo tomou mais força com o movimento Imperative 21. Se você entrar no site do movimento, já se depara com essa afirmação: “Nosso sistema econômico ruiu. É hora de redefinir o capitalismo.” Poderia ser o slogan de um partido de extrema-esquerda, mas o Imperative 21 reúne mais de 72.000 empresas e 150 indústrias em 80 países, com receitas de mais de 6 trilhões de dólares. São empresas que entenderam que é preciso mudar, para continuar no mercado, continuar crescendo e até continuar a existir. A definição de Sociedade do Futuro para o movimento é: Nós vislumbramos uma cultura que valoriza nossa ligação uns com os outros, com nossas comunidades e com o planeta. Como resultado, as empresas e os investidores mais celebrados e recompensados se esforçam para gerar valor para todas as partes interessadas o tempo todo.  Mais uma vez, podemos ver que o foco é no coletivo. Talvez a grande pergunta que as empresas com essa nova consciência possam tirar desses pontos de vista seja: “Se nossas ações sempre têm um impacto na nossa comunidade e no mundo, o que fazer para que elas sejam tão positivas para nós como para eles?”. Nossa intenção é mostrar que esse é o momento de fazer escolhas inovadoras, necessárias e corajosas, além de apresentar algumas dessas iniciativas que já estão em andamento. Se é um consenso que precisamos agir e precisamos agir agora, qual será a sua ação?   Artigo de Marco Ornellas – Consultor e CEO da 157next.academy
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