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O FIM DO ESCRITORIOCENTRISMO – Trabalhar onde?

Escrito por Marco Ornellas

A incerteza ainda dá o tom. A Amazon, depois de em março dizer que tinha como objetivo levar os colaboradores de volta a cultura “escritoriocêntrica”, em junho disse que poderiam trabalhar três dias na semana deixando a opção de trabalhar remotamente dois dias. E por lá, os prazos também tem sido estendidos, desde o inicio da pandemia. A ultima mudança, jogou a volta para os escritórios de 7 de setembro para 3 de janeiro. Mas tudo ainda pode mudar. Já o Google, oferece a possibilidade de se trabalhar permanentemente em casa. Mas não impunemente. Um corte de salário pode acompanhar as vantagens de não ter que pegar trânsito ou de poder almoçar todo dia em casa. Como tecnologia é a área deles, desenvolveram até uma calculadora para que cada um descubra o tamanho de suas perdas. Apesar da facilidade oferecida, a novidade não foi bem recebida. Alguém que mora a duas horas do trabalho, pode ter um corte de 10% ao optar por ficar em casa. Quem mora há uma hora, pode ter um corte de 15%. Como esses cortes igualam ou até superam os últimos recebidos por alguns colaboradores, os protestos já começaram. Outras empresas abraçaram o Home Office e não pretendem soltar o modelo, já tendo se desvencilhado de seus endereços físicos. Outras vão deixar que os funcionários decidam onde o trabalho será realizado. Como todo mundo tem acompanhado, esse é o quadro que se desenhou desde o ano passado, mas toda essa discussão pode ficar velha e superada em pouco tempo. O modelo de trabalho centrado no escritório, de segunda a sexta, de oito horas, já recebeu o selo cringe. Olhando para as novas gerações que estão chegando ou vão chegar ao mercado de trabalho e que já cresceram em frente a um computador, pode parecer que será muito difícil vender a eles a necessidade de trabalho presencial em uma empresa. Poderia. É aí que entra novamente a incerteza. Uma pesquisa da startup Pulses, realizada entre 130 mil profissionais, indicou que as percepções mais negativas em relação ao Home Office, em 2020, foram entre millenials (nascidos entre 1977 e 1997) e membros da Geração Z (nascidos entre 1998 e 2010). Especialmente entre os últimos, apesar de serem nativos digitais, foram maiores os relatos de ansiedade e de sentirem falta de interação social. Mesmo com esses dados, as mudanças nos próximos anos serão inevitáveis. Os novos modelos que se apresentam levam em conta questões como emissão de CO2, a diminuição de postos de trabalho ou mesmo a extinção de profissões. Resumindo: precisamos nos deslocar menos, para tentar conter as alterações climáticas e precisamos descobrir o que fazer com um número cada vez mais crescente de pessoas que não conseguirão uma colocação no mercado de trabalho. As soluções, necessariamente, passarão pelas mudanças. Jornadas de trabalho estão diminuindo em vários países. A Islândia tem liderado a prática de trabalhar quatro dias na semana, com pesquisas indicando que 86% de sua força de trabalho já diminuiu as horas trabalhadas na semana. Importante: sem redução salarial (alô, Google!) e sem perda de produtividade. Na verdade, os registros foram de melhora. Você pode pensar que isso só pode dar certo na Islândia, pelas características do país, mas não é bem assim. A prática já está se espalhando, tendo até uma organização dedicada a isso, a 4 Day Week Global Foundation. Países como Suécia, Finlândia, Espanha, Nova Zelândia e Japão também se destacam no uso do modelo, com o detalhe de que, no Japão, ele também foi adotado por empresas americanas, como a Microsoft. Lá, se registrou um aumento de produtividade de cerca de 40%. Não é preciso pensar muito para enxergar na prática um estímulo ao cuidado com a saúde mental dos trabalhadores, dando a eles mais tempo para se dedicarem à família e ao lazer. E isso é especialmente verdade em um país com índices enormes de esgotamento no trabalho, que até cunhou uma palavra específica para isso: karoshi (pode ser traduzida como “morte por excesso de trabalho”). Saúde mental, aliás, que será um dos fatores decisivos para as tomadas de decisão referentes aos novos modelos. Cada vez mais, as empresas irão entender que colaboradores mentalmente sãos são mais produtivos, não importa onde estejam. E aí, temos também o Anywhere Office, exatamente o oposto do escritoriocentrismo, com a proposta de deixar que o trabalho possa ser feito de qualquer lugar, desde a casa do colaborador, até a mesa de um café ou um coworking. E por falar em coworkings, dentro dessa modalidade de Anywhere Office, o mercado se agita em novas direções. Nos Estados Unidos, a WeWork fechou um acordo com a Saks Fifth Avenue, criando estações de trabalho dentro da loja. A ideia é aproveitar os espaços vazios no varejo, que aumentaram com o crescimento das vendas digitais. Assim, a Saks cede o espaço para postos de trabalho e a WeWork cuida do controle, da organização e limpeza. Todos ganham, inclusive aqueles que forem usar os postos de trabalho para cumprirem suas tarefas remotamente. Se der certo e virar tendência, em breve vai dar pra trabalhar dentro de uma C&A ou de uma Magazine Luiza, por exemplo. Os tempos ainda são de incerteza, isso é fato. Mas o futuro que já chegou deixa claro que o que é bom para uma empresa, tem que ser bom para a saúde mental dos seus funcionários e ser bom para o planeta. Para além de preconceitos ou de idealizações, esses são os fatores que deverão guiar as escolhas que precisam ser feitas o quanto antes.   Artigo escrito por Marco Ornellas – Consultor e CEO da Ornellas Community
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