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HOME OFFICE – Passamos no teste?

escrito por Marco Ornellas

Nas últimas duas décadas, falar da velocidade das mudanças no mundo é um tema recorrente. Olhar para trás é encontrar outra realidade, sem precisar ir muito longe. Dez anos atrás, o iFood ainda levaria mais um ano para ser fundado, o Airbnb mais dois para chegar ao Brasil, enquanto o Uber mais quatro. Os celulares não eram o que são hoje, com a resolução das câmeras, a velocidade de processamento e todos estes aplicativos que hoje são parte do nosso dia a dia. Mas apesar de toda essa rapidez, ainda dá para dizer que as mudanças foram graduais. Em nenhum momento aconteceu uma grande ruptura, com efeitos imediatos, como foi nesse ano de 2020. Se olharmos para o mundo antes de março de 2020 e olhar para o de hoje, apenas seis meses depois, vemos que a vida mudou muito e em escala mundial, com uma preocupação em comum atingindo a mais de 7 bilhões de pessoas. Eventos como esse não acontecem sempre na História. Mas aconteceu agora, no nosso turno, na nossa vez sobre a Terra. Claro que podemos pensar no que gerações anteriores enfrentaram, como as Guerras Mundiais ou a gripe espanhola, mas mesmo elas não tiveram o alcance que a atual pandemia tem em um mundo hiperconectado, onde os deslocamentos são mais fáceis, rápidos e frequentes e a interdependência entre os países maior do que nunca. Cada um de nós sabe como foi atingido, todas as mudanças que aconteceram em nossas vidas, as adaptações que tivemos que fazer. Para a psicóloga belga Elke Van Hoof, especialista em estresse e trauma, nós vivemos “o maior experimento psicológico da História”, com 2,6 bilhões de pessoas colocadas em alguma forma de isolamento a partir de março. Isso representa um terço da humanidade, mas os outros dois terços também foram muito afetados, de várias formas. Mas e as empresas? Será que todas conseguiram se adaptar? O que isso mudou na cultura delas? A primeira coisa em que pensamos é o Home Office. Muitas empresas já optavam por ele, mas para parte dos funcionários e para pequenos períodos. Era um caminho que já estava apontado, mas ainda era visto com desconfiança e até preconceito por parte dos gestores. Trabalhar em casa, ainda mais com a família lá? Não, não pode ser uma boa ideia. Em algum momento, alguém vai pedir para colocar o lixo para fora ou ajudar em uma lição de casa. Era essa a visão de muitos, que apostavam que a queda de produtividade seria inevitável. Mas então, veio a pandemia. O mundo deu um cavalo de pau, restaram poucas opções seguras para muitos trabalhadores e o Home Office estava lá, a melhor entre todas as outras. Em alguns casos, no começo, isso levou a uma marcação cerrada por parte dos gerentes, com checagens constantes para ver se o colaborador estava mesmo na frente do computador, ao invés de aproveitando o tempo em casa para maratonar séries ou aprender a cozinhar. Algumas pessoas em Home Office relataram um estresse maior, por conta dessa pressão de alguns gerentes, que também se sentiam pressionados a manter metas e resultados. Mas em uma proporção geral, essa não foi a regra. A transição – às vezes feita literalmente da noite para o dia – foi mais tranquila do que se poderia imaginar. Quando os dados relativos à produtividade desses trabalhadores começaram a chegar, o que se viu foi um aumento em todos os índices. Claro que para as empresas em que a cultura do Home Office já estava implantada foi mais fácil estendê-lo ao restante dos funcionários. Empresas como a Amazon, que há muito tempo já vinha investindo no modelo, saíram na frente, sendo das primeiras a mandar os colaboradores para casa, com prazos cada vez mais elásticos para a volta ao trabalho presencial. Atualmente, a empresa trabalha com a previsão para que essa volta aconteça em janeiro. Mas já aprendemos que em 2020 tudo pode mudar. As pesquisas apontam que o mito da queda de produtividade associada ao Home Office já foi implodido desde os primeiros meses de quarentena. 70% dos executivos hoje já são favoráveis à manutenção do trabalho remoto após o período de isolamento. Essa já é uma realidade para muitas empresas, o que vem causando impactos grandes em vários setores, especialmente o Imobiliário. Salas comerciais têm sido devolvidas em grande número e até prédios inteiros são trocados por espaços bem menores. Por outro lado, as buscas por casas no campo e no litoral paulista cresceram mais de 600%, com o preço dos imóveis aumentando entre 20% e 40%, com destaque para condomínios localizados num raio de 100 quilômetros de São Paulo. Aliás, a cidade que já via o seu ritmo de crescimento diminuir nos últimos anos, talvez agora chegue a um ponto em que comece de fato a perder mais habitantes do que ganha, com a opção de muitos por uma vida mais saudável, mais tranquila e mais segura, graças ao Home Office e por que não dizer, o Anywhere Office. Será possível ter acesso a todas essas vantagens, enquanto continuam a manter os mesmos empregos, sem a necessidade de estarem presencialmente na empresa, apenas em momentos muito específicos. Por que não aproveitar essa nova prática e repensarmos completamente o conceito de jornada de trabalho? Penso que com essa flexibilidade, os benefícios podem ser multiplicados: as organizações se tornam mais ágeis, os colaboradores ganham uma vida mais saudável e ao mesmo tempo mais produtiva, enquanto as cidades podem ver o trânsito e a poluição diminuírem, impactando a vida de todos os seus habitantes. São mudanças que já eram necessárias, mas que chegaram apesar da nossa vontade, colocando à prova as nossas flexibilidades individuais e corporativas. Ao menos no que diz respeito ao Home Office, parece que estamos passando nesse teste com louvor.   Artigo de Marco Ornellas – Consultor e CEO da 157next.academy
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