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HOME OFFICE: antes de mais nada

escrito por Marco Ornellas

Nos últimos artigos, temos falado muito sobre o Home Office, suas experiências de implantação, os seus prós e os contras. Mas para muitas empresas, toda essa discussão pode se revelar completamente desnecessária, inútil mesmo. É que antes de pensar em adotar o modelo, é preciso checar o básico do básico, responder a algumas perguntas importantes, olhar o contexto sobre várias óticas e verificar se há condições para isso. E é o que vamos fazer agora, olhar essa questão sobre 05 diferentes óticas, mas totalmente complementares: CONTEÚDO O primeiro olhar é do conteúdo do trabalho, o tipo de trabalho que é realizado pelo colaborador ou mesmo pelo time. Ele é repetitivo e mecanicista? Ele é de análise? Ele requer alguma especialidade? O tipo de trabalho pede aparelhos ou ferramentas que só são encontradas no ambiente da empresa, como uma impressora 3D, por exemplo? Ele é individualizado ou precisa da colaboração de outras pessoas, de diferentes níveis? É fundamental para o resultado que ele aconteça na empresa? E a maior pergunta aqui talvez seja: O que é contratado como entrega? O que foi negociado como resultado? Perguntas sobre o conteúdo do trabalho ajudam a entender melhor em que contexto ele deve ser realizado. TECNOLOGIA O segundo olhar é o da tecnologia. O trabalho só acontece se houver conexão e internet de qualidade. Todo mundo sabe como é estar em uma videochamada onde alguém trava toda hora e a conversa se transforma em uma sequência de “Oi?”, “O quê?”, “Pode repetir, por favor?”. Nada pode ser mais contraproducente. Precisamos garantir infraestrutura básica, sistemas e softwares adequados para a realização do trabalho. Quais são as plataformas necessárias para que o trabalho possa ser executado no Home Office ou fora do escritório? Também é preciso avaliar como a Comunicação circula na empresa, separando entre o que é Informação (que pode ter um fluxo em sentido único) e o que é Decisão (que pode ter um fluxo de duas mãos, antes de se chegar a um consenso). As reuniões de trabalho também devem ser avaliadas, se são regulares ou esporádicas e o quanto dependem da interação presencial. GEOGRAFIA O olhar aqui é: onde o trabalho vai e precisa acontecer? Claro que em se falando de Home Office, na maior parte das vezes ele vai acontecer na casa do colaborador, onde além das questões de tecnologia do item acima, será preciso ver se há uma estrutura para receber um posto de trabalho. Mas entra em cena aqui também o Anywhere Office, onde os colaboradores têm a opção de trabalharem onde acharem – e demonstrarem – que são mais produtivos. Dependendo do tipo de empresa, ter uma sede e uma rotina “9 às 5” pode não mais fazer sentido. Já há alguns exemplos de empresa que se constituíram Officeless. Parece difícil? Diria que não. A flexibilidade aqui é a chave e é preciso ver se a sua empresa se adapta com colaboradores podendo variar entre o trabalho em casa e na empresa, ou até em coworkings. Outro aspecto a ser considerado é a necessidade da atividade com visita ou a presença de auditores, fiscais, fornecedores ou clientes. Tentar equacionar esse problema é uma dificuldade a mais para essa atividade ser realizada no conceito Home Office, mas não impossível. APRENDIZAGEM Outra ótica é o da aprendizagem. Cada empresa tem a sua cultura, a sua forma de trabalhar e a forma como seus produtos ou serviços são criados e/ou produzidos. Entrar nesse ambiente muitas vezes pede um período de aprendizagem. Como fica essa questão no Home Office? É possível alcançar uma dinâmica de aprendizagem nesse modelo? O conceito 70:20:10 largamente praticado pelas empresas, na aprendizagem e desenvolvimento, nos últimos anos, cabe no formato Home Office?  Nesse caso em que, 70% da aprendizagem correspondem ao on-the-job learning, ou seja, aprendizado no trabalho, talvez seja possível, assim como os 10% referente a educação formal (cursos, seminários, workshops e leituras formais), mas e os 20% que vêm da observação e do envolvimento com pessoas que podem servir como modelo e exemplo? Como resolver essa questão? Como os colaboradores de uma empresa ficam em relação aos 20%? Como a observação pode se dar dentro do Home Office? Isso é possível? O quanto isso vai limitar a implantação do modelo? Qual o impacto para os colaboradores e para quais colaboradores? De que maneira serão impactadas as trocas, o compartilhamento e a experiência coletiva? TEMPO Por fim, a ótica do tempo. Tempo aqui na dimensão da quantidade de horas que precisamos para realizar o conteúdo do trabalho. Mesmo antes do Home Office, o mundo corporativo já via algumas mudanças em relação a esse quesito. Job sharing, jornadas flexíveis e de tamanho diferenciados, horários alternativos, compartilhamento de talentos e profissionais, inovações no modelo de trabalho serão o “novo normal” daqui para frente. Você deve ter lido, a Unilever já testa a modalidade job sharing desde 2019, onde duas executivas dividiram o cargo na diretoria de recursos humanos. A divisão de trabalho também se revelou pouco ortodoxa: uma trabalhava às segundas, terças e quartas e a outra às terças, quartas e quintas, com reuniões entre elas às terças de manhã. Esse é um modelo onde o Home Office pode se encaixar muito bem, favorecendo a sua implantação no Brasil. Lá fora, 25% das empresas da Europa já haviam adotado o modelo em 2014. No que se refere a tempo e carga de trabalho, algumas mudanças estão vindo para ficar e velhos modelos serão deixados para trás. Em relação ao Home Office, há espaço para uma maior flexibilidade e será preciso levar em conta fatores como o tempo de execução versus o tempo de análise de determinadas tarefas, assim como se o trabalho em si é intermitente ou contínuo. Temos aqui cinco óticas e elas são apenas uma referência, para você começar a pensar em Home Office. Uma amostra mais uma vez de que não há respostas fáceis e simples quando se trata de uma mudança complexa. A chegada da pandemia não permitiu que essas considerações fossem feitas e abreviou esses questionamentos. Mas conforme esse momento for passando, são considerações para serem pensadas e pesadas nesse novo mundo que se aproxima.   Artigo de Marco Ornellas – Consultor e CEO da 157next.academy
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