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Escrito por Liliana Loureiro

Se existe algo que não podemos negar é que 2020 nos conectou com nossas necessidades primárias, como indivíduos e como civilização. A começar pela necessidade básica de estar vivo: respirar! Sem distinção de classes, etnias ou status, fomos ameaçados por um mesmo vírus desconhecido e, pelo visto, mutante. E talvez, pela primeira vez, estejamos reconhecendo que fazemos parte de algo muito maior, incontrolável; talvez estejamos atingindo um nível de consciência que nos permite enxergar um pouco além, percebendo que as narrativas que nossa sociedade vem mantendo já não faz o menor sentido, e por isso desejamos um “novo”. Uma nova história que nos encante e nos salve da Matrix em que nos encontramos.

Gosto de pensar que esse ano foi o portal para entrarmos numa nova era, como a astrologia e outras ciências já anunciavam. Então temos mesmo algo novo no front e estamos todos ansiosos para saber: o que será? As apostas são as melhores, como nos ensinaram os livros e filmes de ficção, após o dilúvio, a onda, o meteoro, alguém chega para salvar o planeta!! Fato que este será um ano que ficará marcado na história da civilização e que todos queremos saber como acaba. E como de costume, vamos buscar um lugar confortável, com boa visibilidade, para sentarmos e assistirmos o espetáculo, esperando ser agraciados e restituídos pelo ano custoso que tivemos: 2021 vai ser o ano NOVO!! O ano da vacina, o ano que vamos poder respirar fundo e retomar as rédeas da nossa vida! E por ele pedimos, como quem pede a um pai, por favorzinho 2021, nos traga nossa vida de volta, também paz e prosperidade! Quero que você venha cheio de coisas boas!

Mas quem sabe, no silêncio de um Reveillon sem fogos, sejamos capazes de escutar o que verdadeiramente precisamos ouvir. Que não haverá herói, nem efeitos especiais. Que somos responsáveis pela construção dessa nova história, que não existe mais tempo para negacionismos, que já chega de pedir e cobrar, estamos crescidos o suficiente para entender que agora é a nossa vez de dar, de agir! Aprendemos tanto durante este ano, nos adaptamos, vimos que fazer diferente é possível e muitas vezes melhor.

Ainda estamos nos acostumando com a impermanência dos novos tempos, mas como a própria natureza nos mostra, somos feitos para isso! Mesmo que tenhamos passado os últimos séculos sendo ensinados a cumprir regras que privilegiam poucos, a sistematizar relações que nos fazem acreditar que controlamos os sistemas e as pessoas, a lutar por causas individuais, unilaterais, nos destacando dos demais como prova de sucesso — e isso funcionou por um longo período. Já esgotamos todos os recursos e mais do que nunca temos condições de perceber que controlar, padronizar, separar e excluir vai de encontro a tudo que nos define, seres que existem como sistemas vivos e que evoluem a partir das suas relações, interações e diversidade.

A nova era nos convida a lidar com o que é abundante, complexo e veloz; coisa de gente grande, madura e corajosa! E nós, uma sociedade que, em sua maioria, ainda vive na co-dependência de crenças e estruturas que nos mantêm estáticos e desconectados dessa essência e potencial do ser humano. Achamos que já vivemos tempos modernos com o avanço da tecnologia, mas nosso modus operandi estacionou na primeira revolução industrial e, como um sapato furado, não sustenta mais o caminhar da humanidade.

Acreditar que o desafio acabou em 2020 é uma total demonstração de imaturidade da nossa parte! Crescer começa agora! Na verdade, já começou, é só olhar as pequenas mudanças que já despontam no mundo. Vozes que se sobressaem porque trazem sentido, lideranças que emergem da diversidade, comportamentos que aos poucos podem redesenhar toda uma estrutura política e econômica. Atitudes de pessoas, como nós, que através de suas escolhas — visíveis ou não — estão amadurecendo e contribuindo para a construção do futuro que desejam, e nos inspirando, nos enchendo de esperança e motivação. Pessoas como eu, como você, que se sentiram provocadas em algum momento da vida e se perguntaram: o que posso fazer por um mundo melhor? O que posso fazer para melhorar o mundo à minha volta? Momentos que nos tiraram da zona de conforto, por uma perda, uma mudança significativa, uma situação limítrofe qualquer…como a que vivemos agora.

E já que estamos aqui, na mesma página, no mesmo saguão de entrada desse novo ano, aguardando a hora de entrar, vamos aproveitar a oportunidade da estreia para sermos mais vulneráveis, conscientes e responsáveis como indivíduos, transformando nosso verdadeiro potencial em elo forte das nossas comunidades, multiplicando e diversificando nossas redes. Para isso, temos a natureza como inspiração e a tecnologia como aliada. Não precisamos de respostas prontas, nem de heróis, nem de narrativas ilusórias que nos confortem. Precisamos de protagonismo, e de um pouco mais de coragem. E como quem se prepara para entrar no palco — e não na plateia -, agradecemos o convite de 2020 e nos preparamos para 2021! O chamado é claro: temos que criar um novo e não temos mais script.

Artigo escrito por Liliana Loureiro – Life Design, Mentora e Facilitadora