Curadorias

O DESIGN CENTRADO NO HUMANO ESTÁ COM SEUS DIAS CONTADOS
Artigo de Fernanda Godoy

Nem bem aprendemos a desenhar soluções realmente centradas nos seres humanos (clientes, usuários, etc.) e já tem alguma mudança? Será que é isso mesmo?

Imagino que estas e outras perguntas lhe venham à mente quando você leu o título deste texto.

Fique tranquilo, eu também me perguntei isso várias vezes.

Mas de onde vem a ideia de que o Design Centrado no Ser Humano vai morrer? 

Bem, acho que com tudo o que vivemos recentemente  (e ainda estamos vivendo com a Pandemia que afeta o planeta)  vimos o “impossível acontecer”. De repente o mundo todo parou ao mesmo tempo. Nenhuma guerra mundial foi capaz disso!

Então boa parte da população foi para as suas casas, ficar isolado socialmente, e passou a rever e modificar hábitos cotidianos.

Agora não é mais possível abraçar alguém sem se preocupar em ser infectado. As relações foram redesenhadas, o comportamento humano passou por mudanças, a tecnologia passou a ser utilizada para realmente conectar pessoas, e o mais incrível: notamos o planeta se regenerar muito rapidamente por não ter a interferência de seres humanos.

Vivemos uma experiência ímpar, onde a responsabilidade de cuidar de si impacta de forma brutal na vida de outras pessoas, afinal, uma única pessoa, assintomática pode contaminar alguém que desenvolverá uma doença que pode levar à morte.

Enfim, não vou discorrer sobre tudo o que o novo Corona Vírus provocou no planeta, mas tudo começa aí:

Parece que o Ser Humano tem um grande potencial de construção e de destruição.

Entretanto o mais importante é notar a interdependência, ou seja: para cada pessoa ser o que é e fazer o que faz ela depende de outras pessoas, de meios para se comunicar e também de inúmeros recursos do planeta. E ao não notar esta interdependência o próprio Ser Humano atenta contra sua existência, explorando de forma equivocada os recursos do planeta, gerando conflitos com outros humanos e colocando em risco a sua própria sobrevivência.

Então, se centrarmos o design de serviço, soluções, experiências no Ser Humano estaremos desconsiderando uma parcela grande de nosso (desconfortável) aprendizado obtido durante este período de pandemia.

COVID-19 é sim um ponto de virada. Empresas que nem se imaginavam digitais tiveram que fazer sua transformação sem tempo de adaptação (estamos falando desde quem vende bolo de pote até grandes empresas globais). Os clientes destas empresas também tiveram que se adaptar, tudo de forma muito acelerada.

A gente não vai poder voltar à forma anterior de funcionamento, pois foi em consequência dela que vivemos isso.

Mas se não colocarmos o Ser Humano no centro do design, o que colocaremos?

O planeta!

Ah sei, parece ingênuo, quase infantil … mas não é!

No centro do design de qualquer solução temos que incluir o ser humano sim, mas como parte de um sistema, que existe de forma interdependente. Então mais que provocar uma experiência fantástica a cada cliente, temos que fazer isso com impacto positivo no meio ambiente, nas relações, na segurança … no planeta.

Temos ao menos duas referências interessantes que já apontavam nesta direção:

No livro Reinventando Organizações, de Frederick Laloux, ele fala das organizações TEAL, que estão aí por um propósito, que são tão flexíveis que se tornam anti-fragilidade, em que as pessoas tem consciência do momento presente e dos impactos sistêmicos de qualquer ação. E este tipo de organização vem após a evolução das organizações orientadas ao cliente.

Mas ao ler, estudar isso, tudo parecia possível num futuro distante … só que não! Este futuro está aí e agora.

Ainda como outra referência, temos o modelo econômico “donut” descrito por Kate Raworth no Livro Economia Donut, incentivando um modelo econômico viável que não depende de crescimento infinito das organizações e sim da circulação infinita de recursos, respeitando as necessidades das pessoas e o meio ambiente, como um todo.

Tudo isso pra dizer que se quisermos criar soluções que sejam duradouras, sustentáveis, viáveis, temos que substituir o Ser Humano pelo Planeta no centro de nosso design.

Você vai notar que ao ampliar esta visão para além de um único objeto, passando a considerar um sistema inteiro como quem irá receber nossa solução, é possível que entremos de verdade em um momento de muita criatividade, de disrupção, de quebra de paradigmas, ou qualquer outro nome que você queira dar para esta possível explosão de novidades.

E só pra finalizar … Não, não há um “novo normal”. Acho que nunca mais teremos algo que classificaremos como um “normal” estático, porque fazemos parte de um sistema, que se movimenta, então o novo normal será justamente não ter um normal!

 

Fernanda Godoy – Curadora em Educação Corporativa , Designer Instrucional, CEO da Prando Comunicação

Muitos dias em quarentena, estudando, trabalhando, observando … e ao olhar pra frente, vejo que esta “parada” foi o tempo de “acelerar” demais algumas mudanças que julgávamos impossíveis.

 

https://www.linkedin.com/in/fernandaprandogodoy/

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