Curadorias

NOVA ERA, NOVAS REGRAS E O SURGIMENTO DE UM NOVO CAPITALISMO
Artigo de Francine Pena Póvoa

“O mundo mudou. Nossos desafios se tornaram maiores. Nossas fragilidades foram expostas. Nossos sistemas precisam de um recomeço. E todos nós temos um importante papel a desempenhar.”

Este é o mote da próxima edição do Fórum Econômico Mundial, que será realizado em janeiro de 2021. De fato, o mundo está passando por profundas mudanças em comportamentos para nós, como indivíduos, para as empresas, para os governos e para a sociedade como um todo. E embora estas mudanças já viessem acontecendo há alguns anos, a pandemia exacerbou tudo isso e colocou um senso de urgência nas ações que são necessárias. Não há mais tempo. É necessário agir já.

Provavelmente uma das mudanças mais impactantes refere-se ao conceito de qual é a verdadeira responsabilidade social dos negócios e das empresas. Considero uma mudança impactante porque a partir de uma profunda revisão neste conceito poderemos perceber seus reflexos em questões fundamentais como aquelas relacionadas ao cuidado com o meio ambiente, com as pessoas e com a ética nos negócios, que compõem as três tão faladas letras ESG ou ASG.

E qual é a verdadeira responsabilidade social dos negócios? No dia 13 de setembro de 1970, o economista Milton Friedman escreveu seu famoso artigo para o The New York Times com o título “The Social Responsibility of Business Is to Increase Its Profits.”

Foram necessários 50 anos, uma pandemia de saúde global, uma grave crise econômica e os clamores da sociedade para combatermos a desigualdade social e por avançarmos em prol da justiça racial para compreendermos que tudo isso está associado a um problema mais profundo e fundamental: um sistema econômico que premia a maximização da riqueza em vez do bem-estar e prioriza o individualismo em vez da interdependência. A obsessão pelo lucro acima de qualquer coisa levou a nossa sociedade a um verdadeiro colapso.

Não há dúvidas de que as empresas, os negócios e o sistema capitalista contribuíram muito nos últimos 200 anos para atender nossas necessidades materiais. Nossa expectativa de vida aumentou, temos mais acesso à educação, produzimos e consumimos mais, temos acesso a tecnologias inovadoras.

Mas será que isso é realidade para todos?

Como explicar que 26 indivíduos detêm a riqueza correspondente a metade de humanidade, de acordo com os dados da Oxfam de 2019?

Como explicar que 94% dos lucros das empresas americanas foram dedicados a executivos e acionistas, em vez de trabalhadores, por meio de recompras e dividendos nos últimos 15 anos, de acordo com informações do Roosevelt Institute?

Como explicar que dois bilhões e meio de pessoas no mundo ainda não possuem acesso a saneamento básico, de acordo com as pesquisas recentes da ONU?

Felizmente estão emergindo no mundo e aqui no Brasil movimentos que têm o propósito de contribuir para mudar esta realidade, como o Capitalismo Consciente, abordagem que associa lucro a um propósito elevado nos negócios gerando valor para todos os stakeholders; e o Sistema B, que propõe usar a força dos negócios para impactar positivamente a sociedade.

Esta semana, inclusive, esses dois movimentos se uniram a outras iniciativas similares e lançaram o Imperative 21, com o propósito de construir um futuro onde todas as pessoas possam trabalhar com dignidade e cuidar de si mesmas e de seus entes queridos, onde nosso planeta seja saudável e nossa economia prospere e em que toda a sociedade trabalhe em conjunto para criar prosperidade compartilhada.

Conquistar isso depende de cada um de nós, independente de nossas áreas de atuação. Estamos vivendo uma oportunidade única, a de deixar um verdadeiro legado para as próximas gerações. E isto começa hoje. Começa agora.

 

Francine Pena Póvoa é Diretora Fundadora da Legacy4Business, Embaixadora Certificada do Capitalismo Consciente Brasil e Líder do Chapter MG

Informações francinepena@legacy4business.com.br e www.legacy4business.com.br e nas redes sociais da Legacy4Business

*Publicado no Diário do Comércio em 18 de setembro de 2020

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