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2020 – TEMPOS DE DOENÇA, TEMPOS DE SAÚDE

Escrito por Marco Ornellas

2020 é um marco na História da humanidade, o ano que ninguém previu. E nós estamos aqui para ver e viver tudo o que ele nos trouxe, que não foi pouca coisa. Estamos aqui, no ano em que tudo mudou, inclusive na forma de gestão das empresas. Geralmente, mudanças nas formas de trabalho levam tempo, pedem análises minuciosas, planejamento rigoroso. Mas aí, veio 2020. O Home Office era uma modalidade estudada por várias empresas, tema de debates, de experimentos, algo feito com muito cuidado, dividindo opiniões. E então, de uma hora para a outra, ele se tornou a única possibilidade para muitas empresas e colaboradores. Sem período de testes, sem planejamento, sem treinamento, sem possibilidade de análise. Prática na veia, da noite para o dia. Claro que já havia empresas muito avançadas nessa questão, até com grande parte de seus colaboradores já trabalhando de casa. Para essas, claro, foi mais tranquilo, havia uma estrutura preparada, protocolos (palavra que ficou tão presente nesse ano) estabelecidos. Mas falamos daquelas em que o Home Office nem havia entrado em discussão. E mesmo assim, aconteceu e, de forma geral, o resultado foi muito positivo. Com a extensão indefinida do período pandêmico, a espera da imunização da maior parte da população, algumas empresas já estabeleceram a duração do regime de Home Office até junho do ano que vem. Outras, não voltarão mais ao trabalho presencial, já tendo devolvido salas e até prédios inteiros, causando uma grande agitação no mercado imobiliário. Empresas onde havia uma gestão mais flexível se deram melhor, claro. Isso mostrou que o importante não era estar pronto para o Home Office ou qualquer outra modalidade de trabalho; a grande questão era estar preparado para mudanças, para os imprevistos, para aquilo que não é esperado e pode transformar nossas vidas de um dia para o outro. Sabemos que isso acontece, temos o passado para nos ensinar isso. Guerras mundiais, grandes crises financeiras, revoluções, até pandemias fazem parte da nossa História. Isso não quer dizer que devemos ter um bunker em cada empresa, com estoque de água e comida. Mas um gabinete de crise, sim. Mudanças repentinas podem acontecer. Estamos vivendo mais cenários improváveis. Outra coisa que esse ano mostrou, foi que planejamentos feitos para o ano seguinte podem ser jogados na lata do lixo antes do ano começar. Quantos feitos no final de 2019 não tiveram esse destino? Como lidar com isso, como administrar uma margem de manobra, que dê alguma cobertura para as operações da empresa? Como pensar em entrega de valor futuro quando tudo muda o tempo todo? Em outra frente, vimos também que 2020 não foi marcado apenas pelo coronavírus, mas também pela luta por direitos, impactando diretamente a Diversidade & Inclusão nas empresas. Não que o combate ao racismo, por exemplo, tenha saído de pauta em algum momento, mas a morte de George Floyd em maio, no auge da pandemia nos Estados Unidos, levando manifestantes a saírem às ruas em várias partes do mundo em meio às regras de isolamento social, fazendo com que tivessem que optar entre a proteção à própria saúde ou a necessidade de ter suas vozes ouvidas. Os debates também se incendiaram na mídia e nas redes sociais, tornando ainda mais urgentes as mudanças que a nossa sociedade precisa fazer para ontem. De maio para cá, a questão só cresceu, com outras mortes de cidadãos negros nos Estados Unidos, chegando até o estacionamento de uma loja do Carrefour em Porto Alegre. A urgência só cresce. Uma palavra fora de lugar, como aconteceu no caso do Nubank, mostrou que o prejuízo pode ser grande e a reação imediata. Os casos de Mari Ferrer e Dani Calabresa também evidenciaram as mudanças que precisam ser feitas em relação a uma parte da sociedade que está longe de ser minoria. As mulheres são mais de 50% da nossa população, mas seguem fragilizadas, tanto individualmente quanto socialmente, profissionalmente ou até, eleitoralmente, como as urnas deixaram claro. O número de candidatas cresceu, mas ainda não correspondem a um retrato da sociedade, o mesmo valendo para LGBTQIA+, negros, e pessoas com deficiência. Esse é um planejamento que podemos fazer, sem perigo de ter que mudar: as pautas de Diversidade & Inclusão precisam ter suas implementações nas empresas aceleradas, sob pena de prejuízos financeiros e de imagem. Principalmente, imagem. Vimos que no caso do Carrefour, as ações despencaram e depois voltaram a um patamar maior do que a antes do assassinato. Mas a imagem para uma parte dos consumidores, essa nunca mais vai voltar a se recuperar. É uma sombra que vai pairar sobre a empresa por muito tempo. Tenho certeza que ninguém deseja que isso aconteça na empresa onde trabalha. Logo nas primeiras semanas da pandemia, Ailton Krenak, uma das maiores lideranças indígenas do país, lançou o livro O Amanhã Não Está a Venda. Nele, ele faz algumas reflexões sobre o momento em que vivemos, sobre a forma como a nossa sociedade estabeleceu uma rotina voltada ao trabalho ininterrupto, onde o mundo não pode parar. E, no entanto, parou. Deveria ter parado mais, mas foi o suficiente para que víssemos animais voltando a lugares onde não iam há muito tempo. Baleias próximas a praias onde não eram vistas há anos, alces no centro de cidades pequenas, menos carbono na atmosfera mesmo com as queimadas no Pantanal desequilibrando a balança. Ailton Krenak diz que se voltarmos ao ponto em que estávamos antes: “…é porque não valeu nada a morte de milhares de pessoas no mundo inteiro. (…) Seria como se converter ao negacionismo, aceitar que a Terra é plana e que devemos seguir nos devorando. Aí, sim, teremos provado que a humanidade é uma mentira.” Esse é o mesmo ponto de vista do movimento #NaoVolte, onde vários CEOs conclamam seus consumidores a não voltarem à essa sociedade pré-coronavírus. Precisamos aprender com 2020, dar sentido e usar essa experiência para construir uma sociedade melhor, que proteja a todos tanto em tempos de doença, como em tempos de saúde.   Artigo escrito por Marco Ornellas – Consultor e CEO da 157next.academy
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