Já tinha finalizado a série de três artigos quando chegou pelo correio o livro UM NOVO JEITO DE TRABALHAR escrito por Laszlo Bock, líder das Operações ligadas a Pessoas no Google (é assim que ele se intitula).
A intenção de compra estava mais em conhecer a fundo o estilo de gestão da famosa Google, entender o que eles têm e fazem de diferente. Mas ao folhear o índice, me deparei com o seguinte título – Epílogo só para os nerds de recursos humanos: Construindo o primeiro departamento de Operações de Equipe do mundo.
Inevitável que fui direto para o epílogo. Até que achei interessante a ideia de ler de trás para frente.
Novas ideias foram surgindo, inspiradoras e disruptivas.
- Para começar o título da posição: Operações de Equipe, ao invés de Recursos Humanos. No Google, o convencional não faz parte do negócio e RH poderia ser interpretado como administrativo e burocrático, ao contrário, Operações sugeria competência de implementação e ação.
- A segunda ação disruptiva foi a reunião que Laszlo fez logo na sua chegada com os doze principais executivos líderes da empresa, para se apresentar e compreender o negócio de cada executivo e suas necessidades. Sub produto dessas conversas foi a criação de uma “folha de cola” referente a cada executivo, descrevendo como lidar melhor com cada um deles.
- Outro ponto surpreendente diz respeito a ações feitas com muita simplicidade. As grandes ideias traduzidas em programas sofisticados para gerenciar carreiras e ajudar os líderes seniores a se desenvolverem foram abandonadas e, no lugar, o atendimento das necessidades mais prementes como aumentar significativamente as contratações semanais sem perder a qualidade. Antes de desenvolver uma ideia complexa, era preciso cuidar de questões mais importantes. Antes de tratar temas futurísticos, era preciso conquistar a confiança da organização.
A fórmula é mais ou menos assim: entregar o básico com consistência e alta qualidade → obter respeito e confiança → ganhar credibilidade para ir mais longe. Simples assim. Quaisquer que sejam as suas aspirações, entregar o básico é o ponto de partida.
- Diante das necessidades e demandas colocadas pelos líderes seniores, três perguntas os especialistas se faziam: O que podemos fazer de modo diferente? O que aprendemos? O que nos pediram que preferimos ignorar e não fazer? As respostas por sua vez eram francamente apresentadas e justificadas. Aqui, o destaque é para o posicionamento, firmeza e competência para dizer não com sabedoria e consistência.
- Outra ideia disruptiva apresentada por Laszlo é o conceito de entregar bens e serviços para atender necessidades individuais dos clientes com eficiência próxima a da produção em massa. “Sempre adotamos uma filosofia coerente em nossos processos de RH, mas ajustamos os detalhes de cada processo com base nas necessidades dos grupos específicos do Google”. Na maioria dos departamentos de RH, existe uma premissa para uma consistência tola, na tentativa de garantir uma equidade impossível de ser conseguida. Como profissional de RH, Laszlo sugere que se abandone sem medo a prática e a política se as circunstâncias justificarem. Brilhante conselho!
- “Antecipação tem a ver com entregar aquilo que as pessoas precisam antes de saber o que precisam para pedi-lo”. As pessoas ficam muito satisfeitas quando você entrega o que elas pedem, mas elas ficam exultantes quando você se antecipa e entrega a elas o que elas nem pensaram em pedir. Aqui há um contraponto ao que costumamos ver na postura e nas entregas da área de RH: uma postura reativa, lenta e uma entrega do básico sem nenhum padrão de alta qualidade. Um exemplo são os US$ 500 que o Google dá a cada googler depois do nascimento de um filho para gastar com a entrega de refeições em casa.
- Usar a análise dos dados para prever o futuro – a análise dos dados é um processo de inspeção, limpeza, transformação, e modelagem dos dados com o simples objetivo de selecionar informações úteis, sugerir conclusões, e apoiar a tomada de decisões. Na grande maioria das organizações, os dados sobre os funcionários são armazenados em sistemas diferentes que não se comunicam entre si. Só conseguimos prever o futuro se conseguimos analisar os dados, tirar insights e construir soluções diferenciadas.
- Outra ideia “fora da caixa” está relacionada à comemoração com as promoções e a ausência de ações com as pessoas que não foram promovidas. Sua empresa faz diferente? Provavelmente não. No Google esse processo é considerado mais justo, aberto e honesto porque ele considera uma conversa com as pessoas que sentem-se ressentidas e um plano é construído para elas continuarem crescendo.
- Abertura a ideias malucas é outra sugestão dada por Laszlo. As premissas do design thinking podem ajudar: empatia, colaboração e experimentação. Ouça seus colaboradores (“a mais importante fonte de inovação para nós são os googlers”), traga diferentes especialidades e expertises para o debate e o desenho de soluções, e por fim, experimente, teste a ideia, anuncie que é um teste e com base na reação das pessoas, decida se a mudança será permanente.
- Melhorar sempre – fazer, repetir, medir e melhorar com o passar do tempo. A melhoria é contínua. “Dirigir o seu departamento ou a sua equipe de RH com os mesmo padrões de objetivos claros, melhoria contínua e integridade inequívoca que adotamos em todo o Google tornará a sua empresa merecedora de crédito e de confiança”.
- Construa uma equipe diversa e não convencional. O Google aplica uma ideia bem diferente na construção do time de RH, “três terços”: um terço de profissionais com experiência tradicional em RH; um terço vem de consultorias com expertise e foco em estratégia ao invés de RH; o terceiro terço de profissionais com grande capacidade de análise, de psicologia organizacional a física. “Os profissionais de RH nos ensinam a reconhecer e a influenciar padrões em pessoas e em organizações; os consultores melhoram nossa compreensão do negócio e reforçam nossa capacidade de solução de problemas; o pessoal de análise aprimora a qualidade de tudo o que fazemos”.
“Mais que qualquer coisa, o que nos une em Operações de Equipe é a visão de que o trabalho pode ser enobrecedor, energizante e vibrante. Isso é o que nos impulsiona”.
Essa frase colocada por Lazslo reflete a essência do que acreditamos que seja o propósito e a essência do profissional de RH. No último dos artigos, destaquei a importância da consciência e engajamento com a missão de servir a um propósito maior – construir soluções que tenham valor para as pessoas, para o negócio e que sejam sustentáveis.
Vale a leitura do livro e boas reflexões!