VUCA, palavra do vocabulário militar americano, surgida nos anos 90, expressa a natureza da nossa sociedade. Descreve a volatilidade (volatility), a incerteza (uncertainty), a complexidade (complexity) e a ambiguidade (ambiguity) dos ambientes e situações que vivemos.
MUVUCA, expressão brasileira, de domínio popular, que significa um grupo de pessoas fazendo bagunça, desorganização, uma aglomeração ruidosa, uma grande confusão, agito, tumulto.
Constam que Regina Casé quando criou o programa Muvuca, produzido e exibido pela Rede Globo no final dos anos 90, procurou Antônio Houaiss na Academia Brasileira de Letras, para saber mais sobre o significado da palavra e obteve a seguinte resposta: “Uma muvuca é uma reunião de pessoas animadas e alegres”.
Analisando o cenário e o ambiente que vivemos, volatilidade significa o ritmo acelerado com que ocorrem as mudanças e o impacto na sociedade; incerteza é a falta de previsibilidade, a perspectiva da surpresa e a dificuldade de desenhar cenários futuros a partir de acontecimentos passados; a complexidade diz respeito a interdependência e conectividade dos fenômenos e a noção de caos; e ambiguidade, que significa a imprecisão da realidade, potencial de erros de leitura, confusão entre causa e efeito e a falta de clareza.
Não é difícil imaginar o nível de stress, ansiedade e medo que esse contexto nos coloca.
A pergunta é: Estamos preparados? Nosso modo de ver o mundo sustenta o entendimento desse ambiente? Estamos prontos para a muvuca do mundo vuca?
A resposta: não temos muita alternativa, ou você se modela ou será modelado. O mundo não vai mudar, ao contrário a muvuca vai aumentar cada vez mais.
Para se modelar, se adaptar e surfar nessa onda:
- Olhe para o futuro, tenha uma visão e avance na direção dela. Vá se moldando e se adaptando no caminho, mas nunca perca a clareza do ponto onde quer chegar. Tenha flexibilidade e saiba que pontes, desvios, atalhos, fazem parte da caminhada. A ordem é seguir com uma estrutura leve (avalie sua bagagem emocional e cognitiva), sempre se movimentando. Lembre-se: é menos importante a velocidade e mais importante o ritmo, frequência e a direção desse movimento.
- Em um ambiente de insegurança e incerteza, é natural sentirmos medo. Deixe o medo chegar e tomar conta, só não deixe ele te paralisar. Sinta o medo, não esconda ou minimize ou ignore. Certa vez ouvi o depoimento de uma nadadora de grandes travessias dizer: “eu tinha sempre duas alternativas ir com o medo ou ficar com o medo, eu sempre escolhia a primeira, ir com o medo”. Vá adiante. Vá com o medo. Destrave, tire o freio e coloque movimento. Tenha confiança na sua escolha e direção.
- Dialogue, converse, ouça outras perspectivas, amplie a visão, olhe para o lado, para fora, para dentro, olhe para cima e para baixo, olhe em todas as direções. Tenha a visão do todo e não só da parte. Lembre-se, é preciso enxergar a floresta, não só as árvores. Compreenda e clarifique. Pense diferente. Pense em redes de colaboração, colabore e esteja conectado para seguir em frente.
- Se permita a viver na ambiguidade, com o contraditório, com o diferente, com as várias perspectivas. Ao invés de buscar o coerente e o convergente, viva o divergente. A vida é feita de diversidade. A natureza é diversa e multifacetada e se conecta e se integra em harmonia. Experimente e teste, prototipe-se. Não há caminhada sem tropeços, erros e aprendizados. Se reinvente e erre rápido para poder corrigir depressa, evoluir e seguir. O ótimo é inimigo do bom!
Olhe o mundo VUCA não como um problema, mas como uma oportunidade, uma benção.
No meio da confusão, desorganização e tumulto, precisamos de uma aglomeração de pessoas leves, alegres, animadas, com ritmo e direção, cada vez mais conscientes do seu poder e do seu papel transformador.
Seja bem-vindo à muvuca do mundo vuca!
Artigo publicado na edição 45 da Revista Coaching Brasil (Fev/2017)