“Assim caminha a humanidade, com passos de formiga e sem vontade”
Para derrotar uma pandemia – questão absolutamente complexa e consequência de um mundo VUCA –, seria preciso confiar mais na ciência e nas nossas lideranças.
Diante do caos, um grupo ou uma sociedade precisam agir em uma única direção. Ao contrário, sem consenso, com cada um fazendo o que pensa ser o melhor, este caos só se aprofunda, assim como o abismo e o individualismo perverso.
Paradoxalmente, atos irresponsáveis no passado fizeram minar a pouca confiança existente entre as pessoas. Hoje não acreditamos nas autoridades, nos políticos, na ciência e nos seus especialistas. Desafiamos o conhecimento sobre vacinas, os diagnósticos médicos, ignoramos os avanços da ciência e da tecnologia e disseminamos informações falsas e infantis. E, o que é pior: fazemos isso achando que estamos “certos”.
O historiador israelense Yuval Noah Harari, autor do best-seller Sapiens, escreveu esses dias que, “para evitar uma catástrofe precisamos recuperar a confiança que perdemos. Não é possível derrotar uma pandemia por meio de propaganda e isolamento: o verdadeiro antídoto é o conhecimento científico e a cooperação global”.
Em outras palavras, não faz sentido construir muros, isolar fronteiras, segmentar nações e impedir a livre circulação das pessoas para impedir que o novo coronavírus se alastre. Não adianta segregar nacionalidades (leia-se estrangeiros) e procurar culpados para o momento que estamos vivendo, porque ele é produto de uma sociedade global, sistêmica, integrada e absolutamente conectada.
Não há mais como impedir e diminuir as conexões, simplesmente porque é impossível voltar para trás.
Segue Harari: “Muitas pessoas culpam a globalização pela epidemia de Coronavírus, dizendo que a única maneira de evitar mais surtos como esse é “desglobalizar. Porém, é exatamente o oposto: O verdadeiro antídoto não é a segregação, mas a cooperação”.
Ele está se referindo, sobretudo, a saídas individuais ou pensadas por e para pequenos grupos: resolver o próprio problema a qualquer custo, consumir remédios sem efeitos comprovados pela medicina, correr para abastecer a casa, ignorar recomendações das autoridades e dos cientistas; ficae estressado com a própria paralisia ou inércia ou disseminar notícias falsas que ajudam a compartilhar o sentimento de pânico – para Harari, todas essas posturas são antídotos.
Como nada é por acaso, penso realmente que o mundo precisava dessa parada para refletir sobre os seus caminhos e, como disse o jornal britânico Financial Times, dar um reset no atual modelo econômico, começando um novo.
Aquele que nos trouxe até aqui não será o do futuro, porque esse modelo nos deixou frágeis e isolados.
Vamos aproveitar o momento atual para diminuir o ritmo, respirar mais fundo e conversar amplamente sobre tudo o que está acontecendo. Podemos até criar redes de colaboração virtuais e fazer escolhas coletivas imediatas que nos ajude a construir o futuro.
O mundo VUCA é baseado na própria gestão da complexidade, lidando com cenários dinâmicos e algumas vezes caóticos. Nele, é preciso que:
– Tenhamos uma visão do todo e não só das partes. É importante olhar sistemicamente. Lembremos: tudo tem a ver com tudo, tudo está ligado a tudo e tudo depende de tudo.
– Coloquemos velocidade na tomada de decisão e, para isso, direção e movimento são importantes. Cenários caóticos pedem decisões urgentes. O caos, no pior sentido, é ruptura do sistema – e o nosso ainda não enfrentou essa quebra;
– Pensemos fora da caixa, sem querermos ter razão e respostas para tudo, assim como não dogmatizarmos soluções. Ninguém tem saída para a nossa situação, mas podemos sair juntos do abismo em que nos colocamos. Sejamos lúcidos e criativos diante das incertezas;
– Fiquemos conectados e criemos entendimento coletivo e rápido do contexto, para ser possível construímos redes de colaboração;
– Muita agilidade, direção, flexibilidade e leveza.
Parodiando o mesmo poeta do título deste artigo: “Nada do que foi será do jeito que já foi um dia”.
Sejam muito bem-vindos à nova era.